14 de agosto de 2014

Disputa de samba 2015 da Protegidos

A Liga das Escolas de Samba de Florianópolis (Liesf) recebeu nesta quinta-feira, dia 14 de agosto, o regulamento do concurso de samba de enredo da escola Os Protegidos da Princesa. O evento será realizado em outubro, em 3 etapas.

As inscrições vão até o dia 15 de setembro. Os interessados deverão comparecer à quadra da escola até a data com dois CD´s gravados em MP3 e com 20 cópias da letra do samba.

A primeira etapa da disputa irá acontecer no dia 2 de outubro e consiste na apresentação dos sambas na quadra. A segunda, no caso a semifinal, está prevista para o dia 5 de outubro. Já a final ocorrerá no dia 12 de outubro.

A Protegidos, em seu regulamento, afirma que os interessados em participar não poderão concorrer nas outras cinco escolas de samba do Grupo Especial.

Abaixo, o regulamento completo, um texto destinado aos compositores, a sinopse e a justificativa:

REGULAMENTO DO CONCURSO DE SAMBAS DE ENREDO DA PROTEGIDOS DA PRINCESA PARA O CARNAVAL 2015:

Enredo: Emoldurada pelo mar, uma história que me representa: Crônica de uma cidade em transformação. 

Quanto aos compositores:

I – Qualquer compositor poderá participar do concurso, sendo vedada a participação do mesmo em quaisquer outros concursos de samba de enredo para o Carnaval 2015 das demais cinco escolas do Grupo Especial da LIESF;

II – Cada compositor poderá integrar somente uma parceria;

III – Quando da inscrição no concurso, o(s) compositor(es) assume(m) expressamente que o samba irá pertencer ao GCERES Protegidos da Princesa, sendo da mesma todos os direitos inerentes à composição, interpretação, execução artística e uso comercial.

IV – Não há restrição quanto ao número de compositores em cada parceria.
Quanto ao samba:

V – A obra deve ser inédita, no que se refere à letra e melodia.

VI – Apenas os compositores responderão judicialmente em caso de incidência no item anterior, isentando a agremiação de qualquer responsabilidade civil ou criminal.

VII – O prazo máximo para a entrega da gravação do samba será impreterivelmente no dia 15 de setembro de 2014, entre as 14h e 20h. 

VIII – A identificação do samba dar-se-á através de um número que será atribuído no momento da inscrição.

XIX – A entrega do samba será feita de forma pessoal, na quadra da escola, OU de forma eletrônica, anexando o samba em formato mp3 através do e-mail: concursosamba.protegidos@gmail.com e deverá conter:

a) 2 (dois) CDs gravados, que serão testados na hora; 
b) 20 (vinte) cópias da letra, que devem conter informações úteis e contatos dos compositores; 

X – Quando da entrega do samba de forma pessoal, será emitido um recibo de entrega datada e assinada pelo diretor designado pela agremiação.

XI – Quando da entrega do samba de forma eletrônica, será enviado um e-mail da escola ratificando o recebimento. 

Quanto ao concurso:

XII – Será feita uma seleção preliminar das obras, de caráter classificatório. A possível eliminação preliminar será definida pela comissão de carnaval;

Obs.: apesar de a seleção preliminar ser baseada no áudio da gravação do CD, a seleção não depende de “superproduções”;

XIII – Primeira etapa: apresentação dos sambas classificados, a ser realizada no dia 02 de outubro de 2014, na quadra da escola; 

Obs.: esta etapa, dependendo do número de inscritos no concurso, será divida em duas chaves, podendo ocorrer em dias diferentes, a ser marcado pela Comissão em tempo hábil.

XIV - Segunda etapa: semifinal a ser realizada no dia 05 de outubro de 2014, na quadra da escola; 

XV - Última etapa: final no dia 12 de outubro, na quadra da Escola. 

XVI – Com exceção da seleção preliminar, em todas as outras fases do concurso existirá um sorteio para definir a ordem das apresentações, com 40 (quarenta) minutos de antecedência do início do evento, devendo conter um membro de cada parceria no momento.

XVII – Será de inteira responsabilidade dos compositores a formação do grupo musical que interpretará sua obra. 

Obs.: Caso necessário, a Comissão de Carnaval se coloca à disposição para da melhor forma contribuir com a apresentação das obras.

XVIII – O não comparecimento, em uma das etapas estipuladas previamente, da parceria devidamente inscrita, acarretará na sua imediata eliminação do concurso. 

XIX – Tudo que corresponde à estrutura para a apresentação dos sambas – local, luz, som e palco – são de responsabilidade da escola. 

XX – Todas as obras serão acompanhadas pela bateria da escola, sendo mantida a igualdade e o nível musical entre as apresentações. 

XXI – A duração de cada apresentação dependerá de decisão da comissão de carnaval que será definida antes do início de cada etapa do concurso. 

XXII – O número de classificados para a primeira fase dependerá, fundamentalmente, do número de sambas inscritos em tempo hábil e dos interesses da comissão de carnaval. 

XXIII – O regulamento poderá ser alterado a qualquer tempo pela comissão de carnaval, cabendo à diretoria de comunicação da escola informar aos compositores em tempo hábil. 

XIV – Caso a comissão de carnaval julgue necessário, o samba vencedor poderá ter sua melodia e letra modificados, para melhor atender às necessidades da escola. 

Quanto ao julgamento do samba:

XXV – Além da comissão de carnaval, cabe também aos profissionais da escola indicados por aquela –  entre carnavalesco, mestre de bateria, diretor de harmonia e demais integrantes e segmentos – a escolha do samba campeão. 

XXVI – Não serão admitidos possíveis artifícios judiciais durante todo o processo de seleção, cabendo à comissão de carnaval do GCERES Protegidos da Princesa toda a responsabilidade pelo andamento do concurso. 

XXVII – Os votos da fase final serão abertos a quem possa interessar, com a devida identificação e assinatura do julgado. 

Considerações finais: 

XXVIII – Como premiação serão pagas as importâncias de: 
a) R$ 500,00 (quinhentos reais) para o terceiro colocado; 
b) R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) para o segundo colocado 
c) R$ 7.000,00 (sete mil reais), para o vencedor. 

Obs.: O pagamento das premiações será feito de acordo com o calendário de repasse de verbas dos Órgãos Públicos que subsidiam o carnaval de Florianópolis. 

XXIX – A conduta dos torcedores será de responsabilidade dos compositores dos sambas. 

XXX – É vedado apresentar-se no palco vestindo camisa de outra agremiação, chinelo ou fumando.

XXXI – Os casos omissos serão resolvidos pela comissão de carnaval do GCRES Protegidos da Princesa. 

XXXII – Será feita uma explanação do enredo pelo carnavalesco no dia 23 de agosto de 2014 (sábado), na quadra da escola, que se situa no bairro Itacorubi, na cidade de Florianópolis/SC, das 14h às 15h30 (quinze horas e trinta minutos). End.: Rua Coronel Luiz Caldeira  200 A  CEP: 88034-110 Itacorubi, Florianópolis-SC.

Anexo I – AOS COMPOSITORES

Uma sugestão do G.C.E.R.E.S. Os Protegidos da Princesa, é que equacionem de forma responsável suas apresentações ao longo da disputa. Nosso objetivo é dar oportunidade para que essas grandes obras sejam tocadas e amadurecidas naturalmente ao longo das eliminatórias, queremos contribuir culturalmente para a música popular e para o samba na cidade de Florianópolis. Sendo assim, sugerimos que escolham o grupo que defenderá seu samba no palco do concurso de forma racional, evitando gastos excessivos e desnecessários.

Este enredo sugere um samba interpretativo, ou seja: que conta o enredo sem se fixar em detalhes, mas que contém implicitamente a ideia e o espírito das principais passagens do enredo. Seguir esta linha não é uma obrigatoriedade ou limitação, mas uma sugestão artística que consideramos conveniente. O desfile será dividido nos seguintes quadros: “O homem e as riquezas do mar”, “Florianópolis portuária”, “Uma cidade em expansão” e “Engrenagem do futuro”, que correspondem à sequência narrativa apresentada na sinopse. 

Não é necessário citar nominalmente estes quadros, tampouco dividir o samba rigidamente entre eles, apenas pedimos para lembrar de sua ideia e espírito durante a composição. Dona Didi é a narradora do enredo, mas o enredo não é sua biografia e não iremos contar sua história na avenida. A letra do samba pode ser composta em primeira, segunda ou terceira pessoa, cabendo aos compositores utilizar seu tino criativo nesta escolha. Não há limites de número de versos ou padrões a serem seguidos. Confiamos em seu bom gosto musical! Surpreendam e emocionem! Muita inspiração a todos e boa sorte!

Anexo II – SINOPSE 

“EMOLDURADA PELO MAR, UMA HISTÓRIA QUE ME REPRESENTA
CRÔNICA DE UMA CIDADE EM TRANSFORMAÇÃO”

Florianópolis, 15 de fevereiro de 2015.

Meus filhos e minhas filhas,

Quando a gente olha pra trás, começa a perceber o mundaréu de coisas que foram se erguendo neste pedacinho de terra perdido no mar. Aquele porto rodeado de umas ruazinhas, uma praça e uns pingados de casas que existia cem anos atrás, hoje é um infinito de prédios gigantes, um vai-e-vem incansável, o asfalto cortando o verde.

Antigamente, também tinha um ir e vir que deixava a cidade num rebuliço só, mas era muito diferente. Logo de manhãzinha, quando o sol se espreguiçava por trás do Mocotó e batia nas pedras de Itaguaçu, já se via o pescador indo colher os frutos do mar e a rendeira bordando com o bilro e contando histórias. Papai trabalhava no porto, era estivador e contava que era assim desde sempre. No mar que leva e traz, que guarda histórias, lendas e segredos, frutificavam as riquezas e acontecia a história da nossa cidade.

Lembro bem de quando fui morar com minha família de criação, num hotel ali na Rua Victor Meirelles. Era por essa hora da manhã que a gente descia pela Praça XV e via as quitandeiras numa gritaria vendendo de tudo. No Mercado, o pescador chegava com o peixe fresquinho e mais adiante a Rua do Comércio vendia os melhores tecidos, secos e molhados, calçados, joias e tudo mais que a gente quisesse. De longe, já se ouvia o barulho da Alfândega: era caixa pra lá, balança pra cá. O movimento era tanto que criaram uma Associação para o progresso chegar mais rápido. O porto fervia de gente e mercadoria que chegava e saía, desde que o Seu Carl Hoepcke, homem importante daquela época, começou a mexer com navio e montar fábrica de tudo quanto era coisa: ponta, gelo, renda e bordado. Antônio, de tanto trabalhar no mar, sempre que via um desses bordados dizia que parecia a espuma na beira d’água.

Ainda era muito menina quando toda a gente precisava pegar barco sempre que atravessava da ilha para o continente. Viver aqui era estar meio preso na ilha. Quando bordaram uma ponte de aço abrindo caminho para o progresso, pensaram em chamar de Ponte da Independência, com toda razão. A comida preferida dos trabalhadores era o mocotó do morro da nossa escola, que acabou ficando conhecido pelo nome da comida. O governador da época não aguentou a tempo da inauguração – chegaram a fazer uma ponte de madeira perto do trapiche pra ele inaugurar, com direito a discurso, fanfarra e foguetório na praça – e deram o nome dele: Hercílio Luz. Muitos anos mais tarde, deixaram o caminho de ferro todo iluminado e o nome ficou muito bonito.

O porto ainda durou algumas décadas e trouxe muita coisa boa pra cidade. Era burburinho de notícias e novidades. Foi com um grupo de marinheiros que começou a nossa escola, que ajudei a dar vida e vocês têm que fazer ser eterna. A Protegidos da Princesa começou ali na Rua Major Costa, na casa do Libânio, nas bananeiras do Libânio. Ali começaram a conversar, embaixo das bananeiras e fundaram “Os Protegidos da Princesa”. Só tinha homem, não tinha mulher nessa época. E eu morava ali na Caixa D’Água, ali nos fundos, passava pela casa do Libânio e a gente já começou a enfrentar o batuque dos rapazes... 

Com a ponte, a vida foi mudando e a cidade foi crescendo. Veio banco, fábrica de tecido e as coisas do mar ganharam outra importância. A pesca cresceu e as criações de ostras passaram a fazer a vida de muita gente. O banho de mar que era um luxo nas praias de Coqueiros, Bom Abrigo e Estreito, começou a trazer gente para conhecer as belezas da ilha e fazer o veraneio por aqui. Muitos foram ficando, porque a ilha é como coração de mãe, sempre cabe mais um.

Florianópolis foi crescendo e ganhou duas universidades. E pensar que na minha época era tão raro ver um doutor, hoje em dia vem gente estudada de todo o mundo trabalhar por aqui. É o tal do progresso, tecnologia, fazem até aquelas máquinas que a gente que é mais antigo tem dificuldade de entender, umas geringonças que dão certo. A cidade cresceu tanto que tiveram que fazer mais pontes de tanto carro que entra e sai! Onde era o campo de futebol em que os rapazes lá da minha pensão jogavam o campeonato profissional, fizeram o primeiro shopping da cidade, coisa tão fina que depois vieram outros! E o aeroporto, que começou como um simples campo de pouso, agora é internacional, coisa chique por essas bandas!
Eu vi essa cidade crescer e começo a pensar que ela não é de nenhum de nós. Já deixei vocês há algum tempo e vocês um dia vão deixar essa cidade para seus filhos e netos. Então, pensem bem no futuro. Minha alma se enche de esperança quando vejo gente lutando pela preservação. Lá na Lagoa, até o óleo de cozinha já é reciclado e tem muitos sonhadores pensando em trazer de volta a cidade com gente que chega pelo mar. 

Continuem construindo nossa cidade geração após geração, sem esquecer de preservar a história, as tradições e a natureza. E, quando puderem, mandem notícias, porque aqui em cima também bate uma saudade. Não esqueçam desta velha mãe que ama muito todos vocês.

Com carinho,
Didi

Anexo III - JUSTIFICATIVA

O desfile de escola de samba é uma grande celebração, um espetáculo festivo a céu aberto, cujos diversos elementos plásticos, musicais e performáticos compõem uma narrativa. Nosso carnaval de 2015 será parte das celebrações pelo centenário da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (ACIF). Desta parceria, nasceu o questionamento: por quais transformações Florianópolis passou nos últimos cem anos?

Certamente, foram incontáveis. Durante nossa pesquisa, constatamos que a história da ACIF é indissociável da história do desenvolvimento urbano de Florianópolis: seu passado, seu presente e seus projetos para o futuro. A antiga cidadela portuária se transformou em um emaranhado de progresso que busca um caminho sustentável para seus próximos passos. É esta a história que iremos contar: Florianópolis é uma cidade em transformação.

Nosso desfile será uma crônica, tendo Dona Didi, a matriarca da Protegidos da Princesa, como narradora. Sua figura é evocada pois sua trajetória é permeada pelos caminhos que o enredo percorrerá, condizendo com a leitura artística pretendida. Filha e esposa de estivadores, ouvia desde pequena as histórias da Florianópolis portuária, que chegou a vivenciar durante a infância. Durante sua vida, foi testemunha do desenvolvimento urbano da cidade e, agora, do céu, maternalmente, olha por seus “filhos” para que construam para Florianópolis um futuro tão belo quanto sua história.

É contando essa história, com uma narrativa consistente, que permite o desenvolvimento artístico da escola de samba em sua plenitude, que entraremos na avenida sonhando com o bicampeonato em 2015!