Carnavalescos: Lucas Pinto e André Rodrigues
Aproximem-se todos... O espetáculo vai começar! E eu vou trazer para vocês uma lúdica história da história, inebriante ao ponto de fazer sonhar! Eu sou o polichinelo, o carnaval em sua mais pura essência e vou te guiar! Deixe se levar pelo toque do alaúde e mergulhe nessa aventura.
Eu vi em antigos tempos uma civilização – a chamada Roma antiga, conhecida pelo furor militar e por seus fortes soldados. Roma como grande conquistadora, acabou por agregar a sua mitologia uma série de deuses gregos e as formas de ritualizá-los. Desta maneira, havia grandes comemorações nas ruas como as Saturnálias, uma festa com muita comida e que era dedicada ao deus Saturno. Nessas festas mortais desejavam serem deuses numa total inversão de valores sociais onde o rico vestia-se de pobre e vice-verso.
Foi lá, onde vi a coroação de um soldado, escolhido por ser o mais belo. Vi-o sendo coroado como o “Princeps” – verdadeiro Imperador da Folia e se vestir de mais extravagante forma. Sua palavra era uma ordem, poderia comer de tudo, beber o que quisesse, experimentar de tudo o que se possa imaginar. Ele era um rei durante as comemorações e, ao fim delas, ele orgulhosamente entregava-se para ser sacrificado com todas as honras, num templo romano. “Io Saturnália”.
Ah! Roma, berço da humanidade e de grandes conquistas. Da loba que alimentou tua raiz e te formou forte como os guerreiros que criastes e que por tua honra eu os vi se enfrentar em combates sangrentos no grande coliseu e que mais tarde se originaria o alegre e divertido circo que conhecemos hoje.
Presenciei a Roma com o fausto de seus Impérios de Césares e Augustus, tendo a águia como símbolo do poder – o pássaro que renasce constantemente e jamais mostra sua fraqueza. Eu vi o passar de todos esses Impérios e sua decadência. Vi o Cristianismo triunfar sobre tudo e todos.
Essa Roma que nos deixou o legado do Direito até hoje utilizado como a base da ciência do Direito além do latim – origem de muitas línguas modernas como o português, o italiano, o francês e o espanhol, sofreu com a invasão dos bárbaros e penetrou pela Idade Média onde guerreiros com suas fardas bordadas com a cruz da cristandade combateu uma das mais longas guerras da história da humanidade conhecida como cruzadas.
Foi nesse tempo da Idade Média que vi na literatura a poesia épica da “Divina Comédia” de Dante Alighieri. Nesse mesmo tempo eu também vi a arte controlada pela igreja e o contraste da riqueza da arte bizantina com sua arquitetura pesada à leveza do gótico com seus vitrais e pinturas evangelizadoras onde o sentimento era o de que o mundo era subordinado a Deus.
Nessa Bella Storia, eu vi o florescer do Renascimento com a valorização do homem. A projeção das ciências nas mãos de Galileu Galilei que mantendo sua teoria foi morar entre as estrelas. Vi também nascer a nomenclatura das notas musicais, o som da batida dos martelos nas cordas de um piano e o som encantador dos violinos Stradivarius tocando as grandes valsas vienenses como se num rodopiar de baianas. Vi também nessa época áurea as belas operas oriundas dos madrigais medievais e, na arte me deparei com Leonardo Da Vinci, o mais eclético artista de todos os tempos liderando a arquitetura, as artes e ciências. E nas mãos de Michelangelo vi o tocar da mão do criador sobre a mão da criatura onde Deus e o homem divide o mesmo plano celestial.
Vi a chegada da idade moderna onde a literatura se desponta nas mãos de Maquiavel. É tempo de descobertas. O Velho Mundo busca novas terras e o genovês Cristóvão Colombo participando das expansões marítimas, apresenta ao mundo a América. Eu vi nesse século XVIII, o espírito investigativo dos cientistas e filósofos iluministas que catapultaram a busca pelo conhecimento em patamares nunca antes observados. Não por acaso, o desenvolvimento de novas máquinas e instrumentos desenvolveram o advento de Revoluções sendo a principal, a Revolução Industrial e, em pouco tempo, a mentalidade econômica de empresários, consumidores, operários e patrões obtiveram mudanças que são sentidas até nos dias de hoje. Durante esse tempo, aconteceu a unificação da Itália chamada de Risorgimento e eu vi a bota receber sua tricolor bandeira representando a esperança, a fé e a caridade inspirada na bandeira tricolor francesa com os ideais de liberdade, fraternidade e igualdade.
Nos próximos tempos, eu vi a Itália viver momentos de dificuldades. A guerra pela unificação italiana, a debilidade da economia italiana associada a alta taxa demográfica e os desempregos foram as maiores causas para que os italianos deixassem suas terras. Nessa época os Estados Unidos que eram os maiores receptores de imigrantes, passaram a criar barreiras para a entrada de estrangeiros. O Brasil era uma promessa de uma terra nova e farta com a possibilidade de trabalho e futuro promissor. O Brasil sofria a pressão imposta
pela Grã-Bretanha para o fim do tráfico escravo além das lutas abolicionistas que ocorriam. Com certeza, o Brasil era a terra ideal para os Italianos que embora com saudades da terra distante cantam e dançam a tarantela.
Canção dos imigrantes vênetos
"América América lá se vive que é uma maravilha vamos ao Brasil com toda a família América América se ouve cantar vamos ao Brasil Brasil a povoar" Canção dos imigrantes (Final do século XIX)
O Brasil vivia o auge do Ciclo do Café, eu vi os primeiros italianos aqui chegarem em terras de Santa Catarina em 1782 vindos das regiões de Vêneto e Trento. O Brasil considerava que o imigrante italiano era um dos melhores para suprir as necessidades em que o país se encontrava, pois além de serem brancos, também eram católicos. Desse modo, eu vi que a assimilação italiana seria fácil na sociedade brasileira.
Os imigrantes chegam ao Brasil e são estabelecidos como colonos, eles fixam suas raízes cobertos de esperanças de trabalho e estabilidade na nova terra que se apresentava dedicando-se inicialmente à produção de queijos, vinhos e hortigranjeiros eles formam um grande enlace cultural influenciando principalmente a culinária brasileira. Em nossas terras eles mostram o jeito de ser italiano cobertos de alegria através de seus cantos e danças. O jeito hospitaleiro de retribuir as atenções. Mostram a importância da família que se reúne aos domingos na casa da nona (avó) e faz da cozinha a parte mais importante da casa. Um jeito todo próprio, franco, comunicativo e autêntico.
E, se há de se ter mais una bella storia que não seja essas todas que contamos vamos falar de amor. De um amor que vence barreiras e fronteiras e enlaça em plena guerra dos farrapos Giusepe Garibaldi e Ana Maria de Jesus Ribeiro mais conhecida como Anita Garibaldi que envolvidos pelo amor e pela guerra combatem em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Uruguai e Itália. O fruto desse amor rendeu ao casal quatro filhos. O casal passou a andar a cavalo e lutar em guerras sem terem lugar fixo para morar. “Heroína de dois mundos”, Anita Garibaldi é considerada até hoje uma das mulheres mais fortes e corajosas da época tendo em Roma uma escultura em praça pública em sua homenagem
Andei, trabalhei, conquistei enfim, esse imenso país. E não reparem na lágrima que corre de meu rosto. Criei junto de vocês uma emocionante história que poderia até ser uma “Divina comédia dos tempos”. E comédia significa que tudo deu certo ao fim. Pois, nesse trocar de informação cultural entre esses povos que habitam a nova terra, o povo miscigena-se dando origem a uma nova casta – os ítalo-brasileiros, frutos da terra-brasillis.
Tudo começou em festa e se transformou em carnaval. É o jeito Brasitália de ser alegre, feliz e sincero nos sentimentos assim como eu. E é com toda essa sinceridade que dedicamos esse desfile a esse povo nobre que para nossas terras vieram e aqui plantaram seus conhecimentos só fizeram enriquecer nossa cultura.
E é nessa maior manifestação cultural brasileira que é o carnaval que festejamos a união dessas duas pátrias nos 150 anos da Itália do Brasil na União da Ilha da Magia que se veste do Carnaval de Veneza para a justa homenagem.
Dessa forma eu, o polichinelo, termino minha estória que poderia até daqui mesmo recomeçar, pois sou eu, a própria comemoração, pois sou o Rei Momo, o único Deus que sobreviveu da mitologia Greco-romana e sobrevivi na festa mais linda do mundo – o Carnaval brasileiro onde a atração principal deste palco teve a responsabilidade de uma grande história de rica bagagem.
UNA BELLA STORIA, de verdade.